5. Força eletromotriz, corrente e resistência

Jaime E. Villate e Luís Miguel Martelo
(21 de dezembro de 2023)
Problema 5.1

Determine o trabalho realizado por uma pilha de 9 V, que fornece uma corrente de 235 mA durante 5 minutos.

Resolução. A potência fornecida pela pilha é:

P=εI=9×235×103=2.115W

e o trabalho realizado é igual à energia fornecida durante os 5 minutos:

W=ΔU=PΔt=2.115×5×60=634.5J
Problema 5.2

Uma certa bateria de automóvel tem carga máxima de 250 Ah, que corresponde à carga disponível quando está carregada a 100%.
(a) Depois de algum uso, a bateria descarrega até 60% da sua carga máxima. Qual é a carga, em coulomb, com que fica a bateria?
(b) A seguir, a bateria liga-se a um carregador de 12 V para a recarregar e observa-se que inicialmente a corrente do carregador tem intensidade de 7 A, mas 6 horas depois diminui a 3 A. Admitindo diminuição linear da corrente em ordem ao tempo, com que percentagem da sua carga máxima fica a bateria no fim das 6 horas?

Resolução. (a) Após ter descarregado pelo uso, a carga restante na bateria é 60% da sua carga máxima inicial de 250 A·h, a qual em coulomb é igual a:

Q=0.6×250×3600=5.4×105C

(b) Como a corrente diminui linearmente, a corrente média durante as 6 horas é a média entre a corrente inicial e final:

I¯=7+32=5A

A carga transferida para a bateria pelo carregador, durante as 6 horas, é igual à corrente média vezes o tempo:

ΔQ=(5A)×(6h)=30Ah

e como a bateria descarregada tinha carga de 0.6×250 A·h =150 A·h, a carga final dividida pela inicial será:

QfQi=150+30250=0.72

Ou seja, a bateria fica com 72% da sua carga inicial.

Comentário: Também podíamos ter determinado a carga transferida para a bateria encontrando a equação da reta correspondente a 7 A em t=0 e 3 A em t=6 (tempo medido em horas), a qual é dada por:

I(t)=723t

E a carga transferida é o integral dessa expressão, entre 0 e 6 horas:

ΔQ=06(723t)dt=30Ah

Note também que o valor médio da corrente elétrica é o integral da equação da reta, de 0 a 6, dividido pelo comprimento do intervalo de integração (6 horas).

I¯=1606(723t)dt=5A
Problema 5.3

A corrente num cabo varia de acordo com a função I=20+3t2, onde I mede-se em miliampere e t em segundos.
(a) Que carga transporta o cabo desde t=0 até t=10 s?
(b) Qual o valor da corrente constante que transporta a mesma quantidade de carga no mesmo intervalo de tempo?

(a) A carga transferida é igual ao integral da corrente, em ordem ao tempo, no intervalo de tempo em questão:

ΔQ=010(20+3t2)dt=1200

As unidades de I eram mA e as unidades de dt segundos. Como tal, o resultado está em mA·s que são mC. A carga transferida é então ΔQ=1.2 C.

(b) A corrente média nesse intervalo é ΔQ/10, ou seja, seria necessária uma corrente constante de 120 mA para transferir a mesma carga nos mesmos 10 segundos.

Problema 5.4

Num condutor ligado a uma pilha com f.e.m. de 1.5 V, circulam 9.6×1021 eletrões de condução durante 2 horas. Determine:
(a) A intensidade da corrente média.
(b) A energia fornecida pela pilha durante esse intervalo.
(c) A potência média fornecida pela pilha.
(d) Se a carga inical da pilha era de 3 A·h, com que carga fica após as 2 horas?

Resolução. (a) O valor absoluto da carga transferida é o número de eletrões transferidos vezes a carga elementar. A corrente média, em ampere, é a carga transferida, em Coulomb, dividida pelo tempo, em segundos:

I¯=9.6×1021×1.602×10197200=214mA

(b) A energia fornecida é igual à carga transferida, vezes a força eletromotriz:

Ep=9.6×1021×1.602×1019×1.5=2307J

(c) A potência média fornecida é igual ao produto entre força eletromotriz (constante) e a corrente média (ou, também, energia fornecida dividida pelo intervalo de tempo):

P¯=1.5I¯=0.320W

(d) A carga final é igual à carga inicial, menos a carga transferida durante as 2 horas. Em unidades de A·h, a carga transferida é igual à corrente média, em ampere, vezes o intervalo de tempo, em horas:

Qf=32I¯=2.573A·h
Problema 5.5

No circuito da figura, determine a resistência equivalente:
(a) entre B e D,
(b) entre A e B,
(c) entre A e D

Resolução.(a) Para determinar a resistência entre B e D, admitimos que há um medidor de resistências ligado nesses pontos, mas não há nada ligado nos pontos A e C. Como tal, as correntes nas resistências de 560 Ω, 220 Ω e 180 Ω são iguais e, como tal, essas 3 resistências estão em série, podendo ser substituídas por uma única resistência de 960 Ω. De forma análoga, as correntes nas resistências de 330 Ω, 150 Ω e 270 Ω são iguais e, podendo ser substituídas por uma única resistência de 750 Ω. Com essas duas substituições obtém-se o seguinte circuito equivalente:

Cada uma das três resistências nesse circuito está ligada entre os pontos B e D. Como tal, as três resistências estão em paralelo e a resistência equivalente entre B e D é:

R=(1960+1120+1750)1=93.39Ω

(b) Para determinar a resistência entre A e B, as resistências de 220 Ω e 180 Ω estão em série (equivalente a 400 Ω), mas não estão em série com a de 560 Ω, porque em A entra ou sai corrente para o medidor de resistência. As resistências de 330 Ω, 150 Ω e 270 Ω também estão em série, porque não há nada ligado em C, sendo equivalentes a uma única resistência de 750 Ω:

As resistências de 120 Ω e 750 Ω, que estão em paralelo, podem ser substituídas pela resistência equivalente,

(1120+1750)1=120×750120+750=300029Ω

As resistências de 400 Ω e 3000/29 Ω, em série porque não há nada ligado em D, são equivalentes a 14600/29 Ω

E essas duas resistências estão em paralelo, sendo a resistência equivalente entre A e B igual a:

R=(1560+2914600)1=265.1Ω

(c) Para determinar a resistência equivalente entre A e D, podem-se usar os mesmos dois primeiros passos da alínea anterior, conduzindo ao circuito equivalente:

As resistências de 560 Ω e 3000/29 Ω, em série porque não há nada ligado em B, são equivalentes a 19240/29 Ω

Finalmente, essas duas resistências estão em paralelo e a resistência equivalente entre A e D é:

R=(1400+2919240)1=249.5Ω

Comentário: O método usado aqui não poderia ser usado para encontrar a resistência equivalente entre A e C. O único que poderíamos fazer seria combinar as resistências de 220 Ω e 180 Ω em série, e as resistências de 150 Ω e 270 Ω em série. Mas a seguir fica-se com um circuito em que nenhumas das resistências estão ou em série ou em paralelo. Nesse caso pode usar-se uma transformação delta-estrela, que será explicada no capítulo 6.

Problema 5.6

Determine a corrente e a diferença de potencial em cada resistência:

Resolução. As quatro resistências podem ser combinadas numa só, usando os três passos indicados na figura seguinte. Primeiro combinam-se as resistências de 2.7 kΩ e 2.2 kΩ, em série, a seguir a resultante combina-se, em paralelo, com a resistência de 5.6 kΩ e a resultante combina-se em série com a resistência de 8.2 kΩ.

Com uma única resistência ligada à f.e.m. de 5 V, a diferença de potencial nessa resistência são 5 V e a corrente é:

I=ΔVR=510813=462μA

Substituindo a resistência de 10.813 kΩ pelas resistências de 2.613 kΩ e 8.2 kΩ em série, como mostra a figura seguinte, a corrente de 462 µA será igual nas duas e as diferenças de potencial serão essa corrente multiplicada pelas duas resistências.

Observe-se que os resultados das diferenças de potencial foram ambos arredondados a duas casas decimais e de forma a que a soma deles seja igual aos 5 V da f.e.m.

Substituindo a resistência de 2.613 kΩ pelas resistências de 5.6 kΩ e 4.9 kΩ em paralelo, a diferença de potencial nessas duas resistências em paralelo será a mesma, 1.21 V, e as correntes nas duas resistências obtêm-se usando a lei de Ohm:

I1=1.215600=216.07μA
I2=1.214900=246.94μA

Arredondando as correntes para números inteiros, de forma consistente com o circuito anterior, usaremos 216 e 246 como mostra a figura seguinte (a soma deverá ser 462 e 246.94 está mais próximo de 246 do que 216.07 em relação a 215).

Finalmente, substitui-se a resistência de 4.9 kΩ pelas resistências de 2.7 kΩ e 2.2 kΩ, recuperando-se o circuito original. Nessas duas resistências em série a corrente de 246 µA será a mesma, e as diferenças de potencial obtêm-se multiplicando essa corrente pelos valores das duas resistências. A figura seguinte mostra a diferença de potencial e a corrente em todas as resistências do circuito original.

Problema 5.7

A temperatura num dado momento é 12 °C. Quanto deve aumentar a temperatura para que a resistência de um fio de cobre aumente 10%?

Resolução. Se R12 for a resistência a 12 °C, a resistência à temperatura T procurada será R=1.1R12 (R12 mais 10% de R12). Estas duas resistências podem ser relacionadas com a resistência R20, a 20 °C, através do valor do coeficiente de temperatura do cobre a 20 °C, 4.036×103 C1 (tabela 5.2 do livro de texto). Usando a equação (5.32) do livro de texto, temos então que:

{R12=R20[1+4.036×103(1220)]1.1R12=R20[1+4.036×103(T20)]

Dividindo a segunda equação pela primeira, eliminam-se R12 e R20 ficando uma equação com uma única variável, T:

1.1=1+4.036×103(T20)0.9677
T=20+1.1×0.967714.036×103=36.0C

Como tal, a temperatura deverá aumentar 24.0C (de 12C para 36.0C).

Problema 5.8

A resistência de uma lâmpada incandescente de 60 W e 230 V, cujo filamento é feito de tungsténio, medida à temperatura ambiente de 20 C é R=65Ω. No entanto, as especificações do fabricante (60 W e 230 V) conduzem a um valor muito mais elevado para a sua resistência. Justifique esta diferença, e calcule a temperatura do filamento de tungsténio quando a lâmpada se encontra acesa, assumindo que a resistividade elétrica do tungsténio varia linearmente com a temperatura.

Resolução. A potência e voltagem nominais, indicadas pelo fabricante, permitem determinar o valor da resistência nominal, usando a expressão da potência numa resistência, P=ΔV2/R,

R=ΔV2P=230260=881.7Ω

Esta é a resistência do filamento de tungsténio com a lâmpada acesa quando esta for ligada à voltagem de 230 V. O filamento, devido à sua temperatura elevada, emite radiação na região do visível (luz) e portanto a lâmpada ilumina.

A resistência a 20C, R20=65Ω, quando a lâmpada está apagada, é muito menor e a esta temperatura o filamento de tungsténio não aquece o suficiente para poder iluminar. A temperatura do filamento de tungsténio com a lâmpada acesa obtém-se a partir da relação entre a resistência e a temperatura, usando o coeficiente de temperatura do tungsténio a 20 °C, o qual é igual a 4.484×103 °C1:

881.7=65[1+4.484×103(T20)]T=2822C

Quando a diferença de potencial na lâmpada for de 230 V, o filamento aquecerá até 2822 C, produzindo luz.

Comentários: O resultado anterior é apenas uma aproximação, já que a relação entre resistência e temperatura provavelmente já não será linear à temperatura elevada da lâmpada. De qualquer forma, a temperatura deve ser da ordem dos milhares de graus Celsius para que o filamento produza luz visível. A lâmpada não queima porque dentro dela não há oxigénio. O mecanismo de produção de luz usado nas lâmpadas incandescentes (aquecer um filamento) é muito ineficiente, pois grande parte da energia elétrica é dissipada sob a forma de calor; as lâmpadas fluorescentes são muito mais eficientes. Hoje em dia as lâmpadas de LEDs são ainda mais eficientes, aproveitando quase toda a energia elétrica para produzir luz.