B. Números complexos e fasores
B.1 Números complexos
A forma retangular de um número complexo é
(B.1) |
onde (parte real) e (parte imaginária) são dois números reais, no campo dos números reais, é a unidade imaginária, , e o produto representa um número imaginário. A figura B.1 mostra o chamado plano complexo, que é um plano onde cada ponto corresponde a um número complexo ; as suas partes real e imaginária são as projeções e em dois eixos perpendiculares, designados por Re (eixo real) e Im (eixo imaginário).

Definem-se o módulo e o argumento do número complexo :
(B.2) |
onde é a função definida em (A.34) e o argumento está no intervalo .
No plano complexo, é a distância desde o ponto onde se encontra até à origem, e é o ângulo que o segmento desde até à origem faz com o semieixo Re positivo (ver figura B.1).
Um número complexo pode então ser escrito também na chamada forma polar projetando as suas partes real e imaginária nos eixos Re e Im:
(B.3) |
A função complexa entre parêntesis na equação (B.3) costuma ser designada por , ou ainda por , por ter propriedades semelhantes à função exponencial real . Para mostrar mais facilmente algumas operações entre números complexos, escreveremos a forma polar em algumas das duas notações seguintes:11A expressão é designada por fórmula de Euler.
(B.4) |
A soma de dois números complexos, e , é outro número complexo, , com partes real e imaginária iguais à soma das respetivas partes dos dois números:
(B.5) |
esta é a mesma forma da soma de dois vetores no plano , em função das suas componentes. Como tal, a soma de números complexos segue a mesma regra do paralelogramo, no plano complexo, da soma de vetores, como mostra a figura B.2. E a soma de números complexos tem as mesmas propriedades da soma de vetores.

Em contraste com os vetores, no caso dos números complexos é possível definir um produto que dá como resultado um outro número complexo e tem as mesmas propriedades do produto entre números reais (comutatividade, associatividade, distributividade, etc.). O produto entre dois números complexos, e , é outro número complexo, , que pode ser obtido usando a sua propriedade distributiva e o facto de que :
(B.6) |
Produto este que tem uma expressão mais simples em termos das componentes polares dos números complexos:
(B.7) |
Ou seja, o produto tem módulo igual ao produto dos módulos de e e argumento igual à soma dos argumentos de e . E a divisão é feita dividindo os módulos e subtraindo os argumentos:
(B.8) |
Define-se o conjugado, , do número , mantendo o módulo igual mas trocando o sinal do argumento:
(B.9) |
O produto de um número complexo com o seu conjugado é igual ao seu módulo ao quadrado:
(B.10) |
B.2 Fasores
As funções sinusoidais com a forma geral:
(B.11) |
são caraterizadas pela sua amplitude , frequência angular e fase inicial .
A forma polar (B.3) de um número complexo mostra que a sua parte real é,
(B.12) |
o que sugere uma outra representação para as funções sinusoidais (B.11):
(B.13) |
A expressão entre parêntesis na equação (B.13) é a representação complexa da função sinusoidal , a qual é uma função real. Quando as funções sinusoidais envolvidas possuem todas a mesma frequência angular , então o factor comum das suas representações complexas pode ser omitido durante os cálculos e reinserido posteriormente. Define-se então o fasor da função como o número complexo,
(B.14) |
A relação entre uma função sinusoidal e o seu fasor é portanto dada por:
(B.15) |
Um fasor é pois uma outra representação de uma função sinusoidal. Apesar de um fasor ser representado como um número complexo, não é um número complexo ordinário, pois possui implicitamente uma dependência temporal. Uma das vantagem de se usarem fasores é que operações tais como a soma, a multiplicação ou divisão por um número complexo, a derivação ou a primitivação de funções sinusoidais são muito mais fáceis de serem efetuadas usando os seus fasores do que usando funções sinusoidais.
Consideremos uma segunda função sinusoidal com a mesma frequência angular que a função sinuisoidal da expressão (B.11), mas com valor máximo e argumento diferentes:
(B.16) |
onde é o fasor de .
A soma das funções e é então:
(B.17) |
onde usámos a propriedade de que a parte real da soma de dois números complexos é igual à soma das suas partes reais (ver expressão (B.5)).
Ou seja, a soma das duas funções sinusoidais com a mesma frequência é também uma função sinusoidal com a mesma frequência angular cujo fasor é igual à soma dos fasores das duas funções, a qual é uma simples soma de números complexos. A maneira mais simples de somar fasores consiste em transformá-los da forma polar para a forma retangular, somar as partes reais e imaginárias, e escrever o fasor da soma na sua forma polar.
Note-se o uso da notação especial para os fasores, , devido a que, apesar de se somarem como números complexos que são, dando outro fasor, o produto complexo entre dois fasores dá um número complexo, mas este já não representa o fasor de nenhuma função sinusoidal.
Contudo, o produto de um fasor por um número complexo ordinário é também um fasor. Considerando o fasor dado pela expressão (B.14), temos então:
(B.18) |
o qual representa a seguinte função sinusoidal:
(B.19) |
O produto de um fasor por um número complexo traduz-se portanto em multiplicar o módulo do fasor pelo módulo desse número complexo e somar ao seu argumento o ângulo desse mesmo número complexo.
A derivada da função é igual a:
(B.20) |
a qual pode ser também escrita como:
(B.21) |
que é outra função sinusoidal, com fasor . Isto é, o resultado da derivação de uma função sinusoidal é multiplicar o módulo do seu fasor por e aumentar ao seu argumento.
O mesmo resultado pode ser obtido mais facilmente derivando a expressão (B.15). Notando que a derivada da parte real é igual à parte real da derivada, temos que:
(B.22) |
O qual mostra que o fasor da derivada de é o fasor de vezes :
(B.23) |
De forma semelhante, como a primitiva da parte real é igual à parte real da primitiva, a primitiva da expressão (B.15) conduz a:
(B.24) |
E conclui-se que o fasor da primitiva de é o fasor de dividido por :
(B.25) |
Em , a expressão (B.15) mostra que . Já em , é um número complexo com módulo unitário e argumento que aumenta diretamente proporcional ao tempo. O produto do fasor por deixa o seu módulo igual mas faz rodar o seu argumento em , no sentido positivo (do eixo Re para o eixo Im). Como tal, o fasor roda no plano complexo, com velocidade angular constante e a cada instante o valor da função é a projeção do fasor, após rodar, no eixo Re. O lado esquerdo da figura B.3 mostra a representação do fasor , como um vetor no plano complexo, e o lado direito mostra o fasor multiplicado por , em quatro instantes: , , e , em que é o seu período de rotação (em cada intervalo o vetor roda radianos).

Os valores da função nos quatro instantes , , e são as quatro coordenadas , , e do vetor no eixo real. Os fasores são vetores que rodam no plano complexo, em função do tempo; os fasores de funções sinusoidais com a mesma frequência rodam com a mesma velocidade angular e, portanto, a soma deles também roda com a mesma frequência.