2. Cálculo do campo elétrico
Problema 2.1
Uma pequena esfera com massa igual a 25 g e carga de 50 nC encontra-se pendurada de um fio isolador de 7 cm que está colado a um plano vertical. O plano vertical tem uma carga superficial constante nC/cm e pode ser considerado infinito. Calcule o ângulo que o fio faz com o plano vertical.
Resolução. O campo elétrico produzido pelo plano é horizontal, com módulo constante . A força elétrica sobre a carga pontual positiva é horizontal, para a esquerda, e com módulo (unidades SI):
Sobre a esfera atuam três forças externas: a força elétrica, a tensão no fio, e o peso. O lado esquerdo da figura seguinte mostra essas forças.
Como a carga pontual fica em equilíbrio, a soma dessas 3 forças deverá ser nula. O problema podia ser resolvido definindo um sistema de dois eixos e resolvendo as duas equações das somas das componentes das forças nos dois eixos iguais a zero. No entanto, é mais fácil observar que para que a soma dos 3 vetores seja nula, se forem colocados um a seguir ao outro, como no lado direito da figura acima, deverão formar um triângulo, que neste caso é retângulo com catetos de comprimento e . Como tal, a tangente do ângulo deverá ser igual a , e o ângulo será:
Problema 2.2
Numa região do espaço há três cargas pontuais, µC no ponto (em cm), µC em e µCem . Calcule o fluxo elétrico através de uma superfície esférica de raio 3 cm, com centro no ponto (1, 0, 0).
Resolução. De acordo com a lei de Gauss, o fluxo através da superfície esférica será igual a vezes a carga total dentro da superfície esférica. Para determinar quais das três cargas estão no interior da superfície esférica, calculam-se as suas distâncias até o centro da superfície esférica:
Como a única dessas distâncias que é menor que o raio da superfície esférica é , a única carga no interior da superfície esférica é e o fluxo elétrico através da superfície esférica é
Problema 2.3
Na atmosfera existe um campo eléctrico que aponta na vertical, para baixo. A nível do mar, o módulo desse campo, é aproximadamente 120 N/C e diminui em função da altura; 2 km acima do nível do mar o campo é aproximadamente 66 N/C. Que pode concluir acerca do sinal das cargas livres nos dois primeiros quilómetros da atmosfera? Calcule a densidade volúmica de carga média nessa região.
Resolução.A lei de Gauss relaciona as cargas livres numa região com o fluxo elétrico através da fronteira dessa região. Como tal, para determinar a carga livre que existe na atmosfera, devemos encontrar uma superfície fechada onde seja possível calcular o fluxo elétrico. Com os dados do problema, podemos calcular facilmente o fluxo numa superfície horizontal (perpendicular ao campo) que esteja a uma altura do nível do mar ou 2 km por cima. Usaremos uma superfície fechada com duas tampas horizontais iguais de área , uma ao nível do mar e a outra 2 km por cima, com paredes laterais verticais, tal como mostra a figura seguinte:
Na tampa de cima o campo elétrico, , tem módulo 66 N/C e aponta para dentro da superfície fechada. Como tal, nessa tampa há fluxo negativo igual a (unidades SI):
Na tampa de baixo, o o campo elétrico, , produz fluxo positivo porque aponta para fora da superfície fechada e o valor do fluxo nessa tampa é:
Nas paredes laterais não há fluxo, porque as linhas de campo são tangentes a essa superfície. O fluxo total na superfície fechada é então:
O resultado positivo permite-nos concluir que na atmosfera (dentro da superfície fechada escolhida) existem cargas livres positivas.
Aplicando a lei de Gauss obtém-se a carga no interior da superfície fechada:
Como o volume da superfície fechada, em unidades SI, é igual a , então a densidade volúmica de carga média é:
Comentários: Foi admitido que as linhas de campo, verticais, são paralelas entre si. Realmente as linhas verticais em dois pontos diferentes da Terra não são paralelas, porque são perpendiculares à superfície da Terra que é curva. Para obter maior precisão, a superfície fechada usada para aplicar a lei de Gauss poderia estar formada por duas esferas concêntricas: a própria superfície esférica da Terra, com raio de km, e a segunda superfície esférica com centro no centro da Terra e raio km, tal como mostra a figura seguinte.
O fluxo elétrico que sai do volume entre essas duas esferas é (unidades SI):
E a densidade volúmica de carga média será:
Este resultado, mais correto, é muito semelhante ao resultado obtido admitindo linhas de campo paralelas, devido ao facto dos raios das duas esferas serem muito semelhantes.
Problema 2.4
Uma carga pontual de 5 nC encontra-se a 6 cm de um fio retilíneo muito comprido, com carga linear constante de 7 nC/cm. Calcule a força elétrica da carga sobre o fio (sugestão: calcule a força do fio sobre a carga pontual, que é mais fácil de calcular, a qual, pela lei de ação e reação, possui o mesmo módulo da força da carga sobre o fio).
Resolução. O campo elétrico de um fio retilíneo infinito, com carga linear constante é na direção radial desde o fio e tem módulo
onde é a distância desde o fio.
O módulo da força do fio sobre a carga pontual é (unidades SI):
Problema 2.5
Um fio não-condutor no plano , forma uma circunferência de raio com centro na origem. O fio tem carga linear não-uniforme , onde é o ângulo em coordenadas polares, cuja origem é o centro da circunferência. Calcule o campo elétrico na origem.
Resolução. A figura seguinte mostra um ponto P no fio e o seu vetor posição .
O vetor posição da origem, onde vai calcular-se o campo, é e
O comprimento infinitesimal de arco ao longo do anel é e o campo elétrico na origem é:
Para calcular os integrais usam-se as identidades trigonométricas:
Que conduzem a:
Os integrais de e são iguais a zero e o resultado final é:
Problema 2.6
Um protão passa pela origem, em , com velocidade Mm/s, dentro de uma região onde há vácuo e campo elétrico uniforme, . Determine o valor que deverá ter para que o protão atravesse o eixo dos em cm. (O peso do protão pode ser desprezado neste caso).
Resolução. O campo elétrico uniforme e na direção do eixo implica força externa constante e na direção . Como a velocidade inicial tem componentes e , o movimento será uma parábola no plano , igual à sobreposição dum movimento uniforme, na projeção no eixo , e um movimento uniformemente acelerado na projeção no eixo :
(usando unidades SI).
O tempo que o protão demora até atravessar o eixo dos , em cm é então:
A trajetória parabólica implica que quando o protão atravessar novamente o eixo dos terá componente da velocidade com o mesmo valor absoluto do seu valor inicial, mas com sinal negativo, ou seja, Mm/s. A aceleração obtém-se a partir da seguinte equação para o movimento uniformemente acelerado:
e, usando os valores da massa e da carga dum protão, a componente do campo elétrico é,
O valor de é N/C.
Problema 2.7
Calcule a carga total dentro do paralelepípedo: cm, cm, cm, onde o campo elétrico é (unidades SI).
Resolução. A densidade volúmica de carga calcula-se usando a forma diferencial da lei de Gauss:
E, por ser constante, a carga no interior do paralelepípedo é igual à densidade volúmica de carga vezes o volume do paralelepípedo:
Problema 2.8
Quatro cargas com valores e (), encontram-se nos vértices dum quadrado de aresta . Determine a expressão do campo elétrico , no ponto P (no meio da aresta do lado esquerdo), em função de , e a constante .
Resolução. Na figura seguinte, as quatro cargas pontuais, designadas de , , e , produzem os quatro campos , , e nas direções indicadas.
Os módulos desses quatro campos determinam-se a partir da Lei de Coulomb:
O campo total no ponto P é a soma vetorial dos quatro campos que, usando eixo dos na direção de e eixo dos na direção de na figura anterior, será:
A partir da figura observa-se que
substituindo esse valor e as expressões de e obtém-se: