9. Indução eletromagnética

Jaime E. Villate e Luís Miguel Martelo
(12 de dezembro de 2024)
Problema 9.1

O comprimento total entre as pontas das asas de um avião Boeing 747 é 60 m . O avião voa a 800 km/h e com altura constante, na direção sul-norte, numa região onde o campo magnético terrestre faz um ângulo de 60 com a vertical e a sua intensidade é 0.5 G. Calcule a diferença de potencial induzida entre as pontas da asas.

Resolução. Escolhendo o eixo x na direção de oeste para leste, o eixo y na direção de sul para norte e o eixo z na vertical, de baixo para cima, a velocidade do avião e o campo magnético são (unidades SI):

v=8003.6ȷˆ  B=5×105(32ȷˆ+kˆ2)

O campo elétrico induzido é igual a

Ei=v×B=800×5×1053.6ȷˆ×(32ȷˆ+kˆ2)=5.556×103ıˆ

O deslocamento infinitesimal ao longo das assas do avião é:

dr=ıˆdx

E a f.e.m. induzida nas assas é o integral de linha do campo elétrico induzido, ao longo das assas:

εi=Eidr=0605.556×103(ıˆıˆ)dx=5.556×103060dx=0.333V
Problema 9.2

A figura mostra uma barra condutora de comprimento d e massa m que desliza sobre dois trilhos metálicos verticais, dentro de um campo magnético B uniforme. A resistência elétrica dos trilhos e da barra são desprezáveis comparadas com R. A barra mantém sempre o contato com os trilhos, permitindo que circule corrente pela resistência R, mas o atrito é desprezável, assim como o efeito da resistência do ar na barra. Quando a barra começa a cair livremente, o seu movimento é inicialmente acelerado mas rapidamente atinge uma velocidade constante v. Calcule o valor dessa velocidade limite v.

Resolução. Quando a barra já desceu uma distância y em relação à resistência R, a área da espira retangular formada pela barra, os trilhos e a resistência é A=yd e o fluxo magnético através dela é Φ=Byd.

A f.e.m. e a corrente induzidas na espira são:

εi=Bddydt=Bvd  Ii=|εi|R=BvdR

A variação do fluxo aponta para dentro da folha e, pela lei de Lenz, a corrente induzida passa pela barra de esquerda para direita, dando origem a força magnética para cima, com módulo:

Fm=IiBd=B2vd2R

Inicialmente (no repouso) essa força é nula e a barra desce com a aceleração da gravidade. Enquanto a velocidade v aumenta, a força magnética também aumenta, fazendo diminuir a força resultante. No instante em que a força resultante é nula, a velocidade atinge o valor limite e os módulos da força magnética e do peso são iguais:

mg=B2vd2R    v=mgRB2d2
Problema 9.3

Uma bobina retangular com 400 espiras, todas com arestas de 1.5 cm e 3 cm, é atravessada por um campo magnético externo B de módulo 0.2 T, perpendicular aos planos das espiras. A resistência total da bobina é 42 Ω. Ligam-se entre si os dois extremos, inicial e final, da bobina e o campo externo é reduzido até 0, durante um intervalo de 4 segundos. Determine a carga total transferida através da bobina durante esse intervalo.

Resolução. O fluxo magnético inicial, através da bobina, é igual a

Φ0=NBA

onde N é o número de espiras, B o módulo do campo magnético e A a área de cada espira. O fluxo final Ψf é nulo e a f.e.m. induzida média é:

ε¯i=ΔΦΔt=NBAΔt

A corrente média é:

I¯=ε¯iR=NBARΔt

E a carga transferida é igual a:

ΔQ=I¯Δt=NBAR

Substituindo os valores dados obtém-se:

ΔQ=400×0.2×0.015×0.0342=8.57×104C=0.857mC
Problema 9.4

A bobina cilíndrica na figura tem 23 espiras de raio 1.6 cm. O eixo da bobina coincide com o eixo dos x, em t=0, mas em t>0 roda no plano xy com velocidade angular constante ω=40s1, no sentido indicado na figura. Na região onde a bobina roda existe campo magnético variável:

B=2.2e14tȷˆ  (unidades SI)

Determine a expressão da f.e.m. induzida na bobina, em função do tempo t, para t>0.

Resolução. A velocidade angular é igual à derivada do ângulo entre o eixo da bobina e o eixo dos x: dθ/dt=ω=40. Como esse ângulo é igual a zero no instante t=0, a expressão do ângulo em função do tempo é (unidades SI):

θ=40t

e a expressão do versor normal à bobina, em função do tempo, é:

nˆ=cos(40t)ıˆ+sin(40t)ȷˆ

O fluxo magnético através da bobina é a soma dos fluxos em todas as espiras (unidades SI):

Φ =NespiraBdA=πNr2(Bnˆ)
=23π(0.016)2(2.2e14t)sin(40t)=0.04069e14tsin(40t)

A f.e.m. induzida é igual a menos a derivada do fluxo magnético em ordem ao tempo:

ε=dΦdt=e14t[0.5697sin(40t)1.628cos(40t)]
Problema 9.5

A espira retangular na figura tem arestas a=30 cm e b=63 cm. No mesmo plano da espira encontra-se um fio condutor retilíneo e muito comprido, paralelo a uma das arestas de lado b e a uma distância d=34 cm dela. Determine a expressão da f.e.m. induzida na espira, em função do tempo t, quando o fio retilíneo é percorrido por corrente com intensidade I=0.42sin(168t) (unidades SI).

Resolução O campo magnético que o fio produz através da espira é perpendicular à espira e com módulo (SI):

B=2kmIϱ=0.84×107sin(168t)ϱ

onde ϱ é a distância desde o fio, que varia entre d e d+a na espira.

O fluxo magnético na espira é o integral de superfície, na espira, da componente perpendicular do campo magnético:

Φ =00.630.340.64Bdϱdy
=0.63×0.84×107sin(168t)[ln(0.64)ln(0.34)]
=33.473×109sin(168t)

E a f.e.m. induzida é igual a menos a derivada desse fluxo, em ordem ao tempo:

ε=dΦdt=5.62×106cos(168t)
Problema 9.6

Uma espira condutora retangular, paralela ao plano Oyz, desloca-se com velocidade constante v=3ȷˆ (m/s) dentro de uma região onde existe um campo magnético com componentes: Bx=(6y) (SI) e By=Bz=0. Calcule a f.e.m. induzida na espira, em função do tempo t, a partir do instante t=0 em que a espira se encontra na posição da figura, com um lado ao longo do eixo dos z.

Resolução. A componente do campo perpendicular à espira é (unidades SI):

Bnˆ=Bıˆ=Bx=6y

A aresta que se encontra no eixo dos z em t=0, estará na posição 3t num instante t, e a outra aresta, paralela ao eixo dos z, estará em 3t+0.2. As duas arestas paralelas ao eixo dos y estão sempre nas posições z0 e z0+0.3.

O fluxo magnético através da espira é então:

Φ=3t3t+0.2z0z0+0.3(6y)dzdy=0.3540.18t

E a f.e.m. induzida é igual a:

εi=dΦdt=0.18V

O sinal positivo indica que é no sentido da regra da mão direita em relação ao versor nˆ usado, ou seja, ıˆ. Como tal, a f.e.m. induzida produz corrente induzida no sentido da rotação do eixo dos y para o eixo dos z.

Problema 9.7

No circuito da figura, calcule as correntes iniciais no indutor e no condensador, a corrente final no indutor e a carga final no condensador.

Resolução. Os circuitos equivalentes inicial e final são os seguintes:

No instante inicial, a corrente no indutor é nula e a corrente no condensador é:

I0=550=0.1A

No instante final, a corrente no indutor é:

I=550+2500=1.961mA

A diferença de potencial no condensador é:

ΔV=2500I=4.902V

e a carga nele é:

Q=3.6×106×4.902=17.65μC
Problema 9.8

No circuito representado no diagrama, a fonte foi ligada no instante t=0, quando não havia corrente no indutor.
(a) Determine a voltagem na resistência de 3.4 kΩ em t=0.
(b) Determine o valor da derivada da voltagem na resistência de 3.4 kΩ, em t=0.
(c) Determine a voltagem na resistência de 3.4 kΩ, quando o circuito atingir o estado estacionário.

Resolução. (a) O circuito equivalente em t=0 é o seguinte:

Como a corrente na resistência de 3.4 kΩ é nula, a voltagem nela também é igual a zero.

(b) Se V(t) e I(t) são a voltagem e a intensidade da corrente na resistência de 3.4 kΩ, em função do tempo, a lei de Ohm implica (unidades SI):

dVdt=3400dIdt

E como em qualquer instante a corrente na resistência de 3.4 kΩ é igual à corrente no indutor, usando a relação entre voltagem no indutor, VL, e a corrente nele, obtém-se:

dIdt=VLL=VL0.412

Em t=0, o circuito equivalente da alínea a mostra que a voltagem no indutor é VL=5 V. Como tal, a derivada da voltagem na resistência, em t=0, é:

dVdt|0=3400(50.412)=41.26kVs

É positiva, porque a corrente no indutor, nula em t=0, está a aumentar e, portanto, a corrente e voltagem na resistência também estão a aumentar.

(c) O circuito equivalente em t é o seguinte:

Ou seja, a voltagem na resistência de 3.4 kΩ é igual a 5 V.