Jaime E. Villate.
Universidade do Porto, Portugal, 2025.
Uma grandeza que na mecânica clássica seja representada por um vetor, na mecânica quântica corresponde a três operadores hermíticos. Em coordenadas cartesianas, o vetor tem três componentes e os possíveis valores dessas componentes quando o vetor for medido são os valores próprios dos três operadores hermíticos.
Por exemplo, a velocidade em três dimensões corresponde a três operadores , e . O valor esperado da velocidade é
Vamos mostrar que é possível termos uma grandeza vetorial, com três operadores , e , em que cada um deles tem apenas dois valores próprios, e . Assim, teremos um vetor simétrico em relação às direções dos três eixos, e em relação aos dois sentidos de cada eixo. O spin realmente tem valores próprios , com unidades de momento angular, mas por simplicidade os operadores que definiremos nesta secção são os operadores de spin divididos por .
Sejam e os vetores próprios de , correspondentes aos valores próprios e :
Como é hermítico, esses vetores são ortogonais e, se estiverem normalizados, formam uma base ortonormal:
Os vetores próprios dos outros dois operadores, e , podem ser escritos em função dessa base. Se e são os vetores próprios de :
Em função da base temos:
Como e são independentes, em qualquer um desses dois estados as probabilidades de medir igual a ou devem ser iguais. Isso implica:
Todos os números complexos da forma (circunferência de raio e centro na origem do plano complexo) têm módulo igual a . Por outro lado, como os dois kets (6.4) devem ser ortogonais,
Uma forma simples de garantir esta condição, com quatro números reais de módulo , é: e , que conduz a:
Consideremos agora os vetores próprios e do operador :
Em função da base podem ser escritos:
Como e são independentes, em qualquer um desses dois estados as probabilidades de medir igual a ou devem ser iguais; isto é,
E a condição de ortogonalidade entre e implica que:
o qual pode ser garantido se e
Os vetores próprios (6.6) permitem calcular a probabilidade de medir igual a nos estados (6.8):
probabilidades essas que deverão ser iguais a ; como tal:
e os dois produtos e deverão ser números imaginários puros. Podemos escolher e reais, e e imaginários puros. Tendo em conta que as quatro constantes deverão ter módulo , e com a condição de ortogonalidade, uma escolha simples das quatro constantes conduz a:
Substituindo as expressões (6.6) na definição (6.3) dos vetores próprios de , obtemos:
e a solução deste sistema é:
Isto quer dizer que a matriz que representa na base é:
A seguir, substituiremos as expressões (6.11) na definição (6.7) dos vetores próprios de :
que conduz a:
E a matriz que representa na base é:
Finalmente, a definição (6.1) dos vetores próprios de implica que a matriz que representa a é:
As três matrizes (6.13), (6.15) e (6.16) são conhecidas como Matrices de Pauli. Algumas das propriedades dessas matrizes são as seguintes:
Resolução. A equação que define os valores próprios é:
Vetores próprios com :
em que pode ser qualquer número complexo (pode escolher-se para que a norma do vetor seja 1, mas o enunciado não pede que assim seja).
Vetores próprios com :
em que pode ser qualquer número complexo.
6.2. Mostre que qualquer operador linear no espaço gerado pela base pode ser escrito como combinação linear dos operadores de spin e o operador identidade.
Resolução. A matriz que representa um operador nesse espaço é:
onde .
Combinando a matriz identidade com as matrizes de Pauli temos:
Como tal,